sexta-feira, 13 de novembro de 2009

“Por que sou católico?”


Tenho em mãos o livro de Felipe Aquino “Por que sou católico?” (Editora Cléofas). Pelo título da obra já da para perceber que se trata de uma temática apologética, mas como cristão que defendo o proveitoso diálogo entre as diversas tradições do cristianismo, a priori, não vejo nada de mais em um livro que tenha por objetivos explicar os porques de sua tradição, logo, não veria nenhum problema também em um livro: “Por que sou ortodoxo?”, “Por que sou anglicano?”, “Por que sou presbiteriano?”, ou outro, desde que, pautado na verdade e na caridade cristã.

Para que eu exponha o que creio ser a verdade, para que explicite a doutrina a qual eu defendo, não preciso mentir, foi o apóstolo São Paulo quem abertamente declarou: “Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo” (1Ts 2,3).

Este é o problema com a obra supra citada. Há nela, ao menos, quatro tipos de erros graves, a saber: raciocínio falacioso, imprecisão exegética, imprecisão histórica e imprecisão teológica, tudo colocado de forma tal que o leigo ou o neófito entendem que se tratam de verdades absolutas. Aqui, quero deixar claro que minhas observações visam somente trazer a luz da verdade sobre inverdades presentes no livro citado. Vejamos então alguns casos destes.

1. Argumento falacioso:

a) O autor argumenta por todo o livro que Jesus Cristo fundou a Igreja Católica Romana, mas não prova historicamente ou biblicamente o fato, apenas afirma, ora isto é engodo, falar e não provar não tem qualquer valor. Jesus nunca esteve em Roma, como poderia fundar uma Igreja “romana”? Cuja sede é em Roma? A Igreja de Cristo foi fundada na Terra Santa, onde Jesus nasceu, exerceu seu ministério, morreu e ressuscitou (Mt 16,13-20), logo, a Igreja de Roma não foi fundada diretamente por Jesus.

b) Querendo desmerecer as outras tradições cristãs, principalmente o protestantismo, o autor do livro declara puerilmente: “Antes do século XVI não se falava em Confissão Luterana; antes do século XX não se falava em Assembléia de Deus, Comunidade 'Nova Vida', Igreja Universal do Reino de Deus, etc.” (p. 87). É verdade, ou pelo menos meia verdade. Usando o mesmo argumento do livro podemos afirmar, antes do século V não se falava em Igreja Católica Apostólica Romana, os pais da Igreja citavam a “Igreja Católica” (do grego: universal, isto é, espalhada por todo o mundo), não de “católica romana”, logo, o argumento do autor volta-se contra si mesmo, perdendo completamente o seu valor.

2. Imprecisão exegética:

Nas páginas 75-83 o autor cita vários textos bíblicos querendo aplicá-los aos bispos católicos de hoje, afirmando que o episcopado monárquico que temos hoje é de origem divina. Só não percebe, ou não quer perceber, que os próprios textos citado desconstroem o que ele quer edificar, a saber, que no primeiro século “bispos” e “presbíteros” eram termos sinônimos e intercambiáveis para o mesmo ministro, como claramente se vê em textos como Atos 20,17-28 e Tito 1,5-7, logo, a monarquia episcopal não é de origem divina.

3. Imprecisão histórica:

a) Na página 140 reza: “João Calvino para implantar o protestantismo, a seu modo, em Genebra, Suiça, em 15/8/1553 mandou o líder católico espanhol Miguel Servet e mais cinquenta para a fogueira”. Em uma frase, Felipe Aquino, citando Daniel Rops, consegue acumular quase meia dúzia de mentiras, pois senão vejamos, em 1553 o protestantismo já estava implantado em Genebra, não foi Calvino quem condenou Servet (Serveto) foi o Conselho da Cidade, Serveto não era católico era unitarista (negava a Santíssima Trindade e este foi o motivo de sua condenação), Serveto veio para Genebra fugindo da Inquisição católica onde havia sido igualmente condenado a morte, Miguel Serveto foi condenado a morte sozinho não haviam 50 outros com ele (http://www.mackenzie.br/7035.html ).

b) Outro absurdo histórico do livro é atribuir todos os bons feitos à Igreja Católica e os graves delitos que praticou aos “filhos da Igreja” (p. 141-142), isto é um mero jogo de palavras para confundir os incautos – a Igreja, seja ela qual for, só existe nos seus filhos e portanto erros e acertos que seu filhos fazem pela Igreja é a Igreja quem faz.

c) Mais um erro histórico, possivelmente motivado pelo preconceito do autor, está em atribuir a Lutero o cisma causado no século XVI com a Reforma (p. 142), enquanto qualquer historiador isento sabe que Lutero foi expulso (excomungado) da Igreja e não foi ele quem dela saiu – seu objetivo era apenas reformá-la (daí “Reforma”), é muito fácil, conveniente e comum o algoz atribuir a culpa a vítima para poder se justificar. d) Para não me delongar muito, vemos nas páginas 84-85 o autor dizendo que Santo Irineu (+202) é a fonte histórica da suposta sucessão dos bispos de Roma que os liga até os apóstolos, eis o grande problema, pois é historicamente sabido que “a primeria lista de bispos, do padre da igreja do século II Irineu de Lyon, segundo a qual Pedro e Paulo transferiram o minsitério dos episkopos para um certo Lino, é uma falsificação do século II” (cf. A Igreja Católica, Hans Küng, Ed. Objetiva, p. 49) e mais “A lista de Papas ou bispos de Roma do Anuário Pontifício é, do ponto de vista histórico, discutível” (cf. Os Ministério, Pe. Alberto Antoniazzi, EDIPUCRS, p.17). Assim, os próprios teólogos e sacerdotes católicos derrubam o engano que este livro quer propagar. Note-se que ao contrário de Felipe Aquino que só cita fontes que lhe sejam favoráveis, só citei fontes (católicas) que não são de minha linha teológica, portanto, não teríam nenhum interesse em defender o meu pensamento, mas que apenas expressaram a verdade dos fatos.

4. Imprecisão teológica:

O autor defende a infalibilidade dos papas e da Igreja Católica (p. 56-65), mas de cara admite que alguns deles tiveram vidas repreensíveis (p. 61). admite também a intromissão político-financeira na eleição de papas e bispos (p. 141-142), ora, se o Espírito Santo garante a integridade teológica da Igreja, teria ele também que garantir sua retidão moral, pois não há doutrina pura sem vida pura, é o próprio Deus que desqualifica um sacerdote ímpio e seus ensinos: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos” (Os 6,4). Assim sendo, é falso o argumento apresentado neste livro.

No sistema jurídico é conhecido que se uma testemunha fala nove verdades, mas comprovadamente mentiu uma única vez em seu depoimento, todo o depoimento é rejeitado como falso. Assim também nas Escrituras “qualquer um que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2,10). Como vimos este livro está eivado de inverdades, portanto, é de todo desqualificado.

O que mais me estarrece é o fato de que o autor não o faz inconscientemente, ele é formado, segundo afirma, em Teologia (p. 12), portanto deveria ter o conhecimento mínimo necessário, logo, por que mentir? Preconceito? Necessidade de justificar o que se crê? Não é esta a atitude de Jesus, ele é a Verdade e só se compraz nela (Jo 14,6).Portanto, abandonemos os erros e preguemos o evangelho sim, mas sem dolo, somente com a verdade.

Rev. Sandro

+P.S. - Este artigo não é uma crítica a nenhuma denominação religiosa, mas uma análise crítica do livro citado.

Fonte: O FARISEU

8 comentários:

Ren Wysocki disse...

Você sabia que Lutero matou na guilhotina Thomas Munzer, líder dos anaBatistas, além de centenas de fiéis Batistas. Lútero foi o açougueiro dos Batistas, não a Igreja Católica.
Leia o outro livro do prof. Felipe: "Uma história que não é contada"
Você não vai se arrepender"
Ass Renato F W.

Raul Santos disse...

Leia a Carta de Santo Inácio de Antioquia aos esmirnenses e veja que ele fala que aonde está Cristo Jesus está a Igreja CATÓLICA,esta carta foi escrita no ano 107,ele conheceu João(apóstolo)portanto a Igreja CATÓLICA não foi fundada em 325,mas sim fundada ainda pelos apóstolos.Leia os documentos de São Cipriano,leia os documentos de Eusébio de Cesaréia(primeiro historiador da Igreja),leia o Didaqué(documento datado do primeiro século em que fala um pouco sobre a doutrina dos apóstolos e fala também sobre como eram os rituais,os cultos naquela época,e por coincidência são bem parecidos com as missas de hoje,heehe!).Ler é fácil,agora aceitar vou te dizer que realmente é difícil.E dizer que a Igreja não salva,é a mesma coisa que dizer que bisturi não opera ninguém,quem opera é o médico.Aliás quem comunga sua carne na eucaristia já tem um pé a frente se não já est´´a com a salvação.

Anônimo disse...

Os termos: (Igreja Universal, Igreja Católica, Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Romana), se referem ao mesmo termo.. não há necessidade alguma do autor ficar a todo momento dizer o nome completo "Igreja Católica Apostólica Romana", porque sejam os vários nomes que se pode chamar, ela é una, e qualquer cristão católico sabe muito bem de que dizer só Igreja Universal ou Igreja Romana se refere ao seu nome IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA. Fica a dica: Vai estudar a história da Igreja, porque esses "fundamentos críticos" como vc disse está muito sem base para ser "crítica", Pra começar A Igreja Católica foi fundada no ano 30/33 ( tem muita história pra estudar ). Pois ninguém critica aquilo que não conhece, e muito menos tentar criticar a partir deste livro, sendo que para ter esse livro, foi pelos estudos históricos e da Igreja e não do autor por si mesmo, tudo que foi colocado no livro foi baseado de estudos teológicos aprofundados e não meros estudos conforme o que "eu acho".

Unknown disse...

Alguns comentários: Item 1a)primeiro é preciso esclarecer que a mudança de sede da Igreja Católica para Roma, de forma alguma constituiu a fundação de uma nova igreja, foi apenas a continuidade do que já estava sendo construído pelo sangue dos mártires. Segundo, cabe esclarecer que o Novo Testamento da Bíblia só foi definido depois do ano 400, quando a Igreja Católica já estava estabelecida em Roma. Os Livros do Apocalipse de João, e a Carta aos Hebreus só constaram dos livros canônicos após muita reflexão fortemente influenciada por Santo Agostinho. Outros livros, tidos como sagrados por muitos à época foram reeitados. Dessa forma, se adotarmos o seu pensamento, teremos que os livros sagrados foram definidos pelo Igreja Católica Romana, que você combate.
Item 3b)A infalibilidade papal é altamente restrita, ela só diz respeito a dogmas de fé e moral. Desse modo, o papa é infalível apenas quando introduz um novo dogma na doutrina católica. No mais, ele é um homem pecador, como os outros, tendo a mesma dificuldade na busca pela santidade aqui na terra. Assim a Igreja Católica é santa porque tem uma doutrina santa, mas também é pecadora por que é feita de homens, que são pecadores. Por isso que João Paulo II pediu perdão pelos pecados da Igreja, porque feita de homens pecadores que erram ao não seguirem literalmente a sua doutrina.
3c)De fato, Lutero foi excomungado da Igreja, porque desobedeceu a doutrina e ao papa. Isso não significa que ele tinha que fundar outra igreja, podia pedir perdão, ser redimindo de seus erros e ser readmitido. Ademais, veja que o próprio São Paulo, em uma de suas cartas, manda excluir os ditos fiéis que estão cometendo pecados graves, pois um pouco de levedo estraga toda a massa. Assim, afirmar quem provocou o cisma depende unicamente do ponto de vista de quem olha.

Unknown disse...

Ô Sandro! Ô Sandro meu irmão em Nosso Senhor Jesus Cristo...Sou um leigo neste assunto de vcs Teólogos profissionais, mas deixa eu te dar um "idéia" sobre este fato que muitos Católicos desconhecem e muita menos vc: Jesus de fato nunca esteve em Roma mesmo, mas a igreja Católica Apostólica Romana, não é assim denominada, porque foi fundada na cidade de Roma como pensam os ingênuos. É assim chamada porque toda a galiléia era dominada por Roma e tal qual o Apóstolo Paulo se achava Romano, a Igreja de Jesus tbm é Romana, deu pra entender? Em pentecostes, quando o espírito Santo desceu sobre os Apóstolos, a galiléia toda era Romana viu Sandro? Paulo foi enfántico com o Tribuno: "Eu sou Cidadão Romano de Nascimento e vc o é, porque comprou este título". Para ficar melhor para vc: As ilhas Malvinas são Argentinas mas dominadas pela Inglaterra e todo e qualquer elemento Argetino que nasce lá, é considerado Inglês, viu Sandro. Fonte: 'Muitas pesquisas na WEB"!!!
CA

cleijsantos disse...

Claro que não é uma crítica. A Assembleia de Deus tem em sua escola dominical uma série de livros que tratam de todas as denominações mostrando que são heresias etc etc, inclusive sobre vocês "Batistas" e ainda por cima auto-firmando-se como corretíssima e cristãmente original. Mostre aqui também esses livros e critique também! O prof. Felipe escreve um livro para esclarecer aos católicos a verdade da sua fé e o "Batista" vem e diz que tá errado aqui e ali... Brincadeira.

Unknown disse...

Seus argumentos são jogados ao vento...
Quando o autor diz que a igreja catolica é a igreja de cristo, não diz que foi cristo quem a criou,
Mas a partir do momento em que cristo escolheu Pedro, e esse sim foi a roma para construir a igreja diz se que Jesus é o principio da igreja catolica, já que ele deu ordem a Pedro para que erguesse a igreja de cristo...

Unknown disse...

Acho ridículo um site de uma igreja que só serve para condenar seus irmãos!

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