quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Acredite se quiser


Sempre num lugar por onde passavam muitas pessoas, um mendigo sentava-se na calçada e ao lado colocava uma placa com os dizeres:
"Vejam como sou feliz! sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado".
Alguns passantes o olhavam intrigados, outros o achavam doido e outros até davam-lhe dinheiro.Todos os dias, antes de dormir, ele contava o dinheiro e notava que a cada dia a quantia era maior.
Numa bela manhã, um importante e arrojado executivo, que já o observava há algum tempo, aproximou-se e lhe disse:
"Você é muito criativo! Não gostaria de colaborar numa campanha da empresa?"
Após um caprichado banho e com roupas novas, foi levado para a empresa. Daí para frente sua vida foi uma seqüência de sucessos e a certo tempo ele tornou-se um dos sócios majoritários.
Numa entrevista coletiva à imprensa, ele esclareceu de como conseguira sair da mendicânciapara tão alta posição.
Contou ele:
Bem, houve época em que eu costumava me sentar nas calçadas com uma placa ao lado, que dizia:
"Sou um nada neste mundo!
Ninguém me ajuda!Não tenho onde morar!Sou um homem fracassado e maltratado pela vida!
Não consigo um mísero emprego que me renda alguns trocados! Mal consigo sobreviver!
"As coisas iam de mal a pior quando, certa noite, achei um livro e nele atentei para um trechoque dizia:
"Tudo que você fala a seu respeito vai se reforçando. Por pior que esteja a sua vida, diga que tudo vai bem. Por mais que você não goste de sua aparência, afirme-se bonito.Por mais pobre que seja você, diga a si mesmo e aos outros que você é próspero."
Aquilo me tocou profundamente e, como nada tinha a perder, decidi trocar os dizeres da placa para:
"Vejam como sou feliz!
Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado".
E a partir desse dia tudo começou a mudar, a vida me trouxe a pessoa certa para tudo que eu precisava, até que cheguei onde estou hoje.Tive apenas que entender o poder das palavras.
O Universo sempre apoiará tudo o que dissermos, escrevermos ou pensarmos a nosso respeito e isso acabará se manifestando em nossa vida como realidade.Enquanto afirmarmos que tudo vai mal, que nossa aparência é horrível, que nossos bens materiais são ínfimos, a tendência é que as coisas fiquem piores ainda, pois o Universo as reforçará.
Ele materializa em nossa vida todas as nossas crenças.
Uma repórter, ironicamente, questionou:
O senhor está querendo dizer que algumas palavras escritas numa simples placa modificaram a sua vida? Respondeu o homem, cheio de bom humor:"Claro que não, minha ingênua amiga!
Primeiro eu tive que acreditar nelas!"

Silvia Schmidt

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Bom Pastor - 2ª Parte


O que NÃO se espera de um pastor

É interessante constatar que, para que não pairem quaisquer dúvidas, a qualificação neotestamentária do bom pastor é feita também por meio de exemplos negativos, exemplificando características que não devem estar presentes no líder (ou candidato a líder) da igreja. São elas:

1) que não seja dado ao vinho - 1 Tim 3:3 (ARA, ARC, BJ, TEB) – “não deve ser apegado ao vinho” (NVI), “não beberrão” (BP). Não pretendemos aqui entrar na questão de se é permitido ao cristão o consumo de álcool, embora na mesma carta (5:23), Paulo recomende a Timóteo que tome um pouco de vinho por causa de seus problemas de estômago e outras enfermidades. O fato indisputável é que o pastor não deve ser um bêbado, um embriagado, mesmo que eventual. Deve ter cuidado também para que o seu testemunho público não seja afetado por uma taça de vinho.

2) que não seja violento – 1 Tim 3:3 (NVI) – não briguento (BJ, BP, TEB), não espancador (ARA, ARC). A palavra grega aí traduzida por “violento”, “briguento”, “espancador” é πλήκτης - plēktēs, que quer dizer literalmente um “pugilista”, “lutador”, alguém que parte para o ataque físico contra outra pessoa. Obviamente, não devemos limitar este significado apenas para o aspecto físico da questão, mas também na conduta social e emocional do pastor, que não deve ser alguém que “atire sem perguntar”, para quem “a melhor defesa é o ataque”. Pelo contrário, o pastor deve ter sempre em mente o exemplo de Sadraque, Mesaque e Abedenego, que diante da ameaça de serem atirados na fornalha de fogo do rei, não tiveram dúvida alguma de responder: “Ó Nabucodonosor, não precisamos defender-nos diante de ti. Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e ele nos livrará das tuas mãos, ó rei” (Daniel 3:16-17).

3) que não seja altercador – 1 Tim 3:3 (TEB) – “não contencioso” (ARC), que seja “inimigo de contendas” (ARA), “amável, pacífico” (BP, NVI), “indulgente, pacífico” (BJ), . A palavra grega aqui é ε'πιεικής - epieikēs – que também pode ser traduzida por “paciente”. Além de “não violento”, o pastor não deve ser alguém que sempre “parta para a ignorância” segundo o dito popular. Deve ter capacidade de argumentar sem recorrer à violência verbal. Lamentavelmente, muitos líderes preferem seguir outro ditado popular, e dão um boi para não entrar numa briga, mas uma boiada pra não sair dela.

4) não apegado ao dinheiro – 1 Tim 3:3 (NVI) – “não cobiçoso de torpe ganância” (ARA, ARC), “desinteressado” (BP), “desinteresseiro” (BJ). No texto original em grego, Paulo enfatiza tanto essa questão que usa duas palavras para reforçar a importância de não servir ao dinheiro: αι'σχροκερδής (aischrokerdēs) e α'φιλάργυρος (aphilarguros), também traduzida como “avarento” (ARA, ARC). Na carta de Paulo a Tito (1:7), a TEB traduz aischrokerdēs por “não ávido de lucros desonrosos”. Infelizmente, nos dias atuais, esta ênfase paulina foi deixada de lado pelos “pastores” da prosperidade, mais preocupados em pedir dinheiro e amealhar fortunas do que simplesmente pregar e (principalmente) viver o evangelho em sua plenitude. Na visão deles, o sucesso é medido pela conta-corrente polpuda e não pela igreja cheia de pecadores convertidos a Jesus. Graças a Deus, ainda há poucos e bons pastores que sabem que de nada vale ao homem “ganhar o mundo inteiro e perder sua vida” (Mateus 16:26, Marcos 8:36, Lucas 9:25), e por isso escolhem investir seus recursos e sua vida na propagação do evangelho, e não no acúmulo de riquezas particulares, cientes do que Paulo também disse mais adiante (1 Tim 6:10) - "o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males". Quando se despediu dos presbíteros de Éfeso (Atos 20), Paulo invocara em seu testemunho que “de ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo” (vv. 33-34), logo após lhes predizer que “eu sei que, depois de minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho, e que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (VV. 29-30).

5) que não seja novo na fé (neófito) – 1 Tim 3:6 (ARA, ARC) – “que não seja recém-convertido” (BJ, BP, NVI), e a seguir Paulo justifica: “para que não se ensoberbeça” (ARA, ARC, BJ), seja “cegado pelo orgulho” (TEB), “não se envaideça e incorra na condenação do diabo” (BP). Infelizmente, esta orientação de Paulo é seguidamente desobedecida em muitas igrejas, que assim que surge alguém recém-convertido com algum destaque, já lhe passam muitas incumbências que, biblicamente, só cabem a um pastor. Isto sem contar todos aqueles que não são exatamente “iluminados”, mas ficam “deslumbrados” com a graça de Deus, e, imaginando que a estão servindo (ou ainda, “cobiçosos de torpe ganância”), fundam suas próprias igrejas como os mais novos “profetas” e “pastores” da praça. O próprio fato de crescer no entendimento e na graça de Deus implica em tempo e paciência para que o fruto do Espírito Santo nele se desenvolva. Paulo era profundamente zeloso desta característica, tanto que insiste mais adiante com Timóteo: “a ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (1 Tim 5:22).

6) que não seja arrogante – Tito 1:7 (ARA, TEB) – “não presunçoso” (BJ), “não orgulhoso” (NVI), “não egoísta” (BP). Embora todas as soluções sejam possíveis, a Bíblia do Peregrino parece traduzir melhor a palavra grega αυ'θάδης – authadēs, que significa primordialmente “alguém que faz algo só para o próprio prazer”. Infelizmente, esta é mais uma qualidade priorizada por Paulo e desprezada por muitos pseudo-pastores, que se encaixam mais na definição do apóstolo Judas Tadeu: “Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água, impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas, ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre” (Judas 1:12-13). Na visão de Pedro, esses pretensos líderes “são como criaturas irracionais, guiadas pelo instinto, nascidas para serem capturadas e destruídas; serão corrompidos pela sua própria corrupção!” (2 Pedro 2:12).

7) que não seja iracundo – Tito 1:7 (ARC) – que “não seja irascível” (ARA, BJ, TEB), “briguento” (NVI), “colérico” (BP). A palavra grega aqui é ο'ργίλος - orgilos - que significa a qualidade da pessoa que se ira, encoleriza, rapidamente. Não deixa de ser um complemento aos atributos de “não violência” e “não altercação” a que Paulo se refere na carta a Timóteo. As três qualidades demonstram que o pastor deve ser uma pessoa em que o fruto do Espírito seja bem desenvolvido, e que ele tenha paciência, domínio próprio, temperança, e principalmente humildade para ouvir primeiro o que o outro tem que falar, e interaja ou reaja com toda mansidão.

Conclusão

Diante de todas essas características, é imperativo que tanto os pastores como suas congregações observem fielmente o que o Novo Testamento propõe para a liderança da Igreja. O escritor aos Hebreus (13:7) diz que as ovelhas devem seguir o exemplo de seus pastores e imitar a sua fé. Enorme responsabilidade esta! Curiosamente, o escritor de Hebreus recomenda que se observe atentamente o resultado da vida dos pastores que já se foram, uma atitude bem diferente daquela que impera em muitas igrejas atualmente, de que a fé se mede pelos resultados imediatos e palpáveis que ela obtém em, muitas vezes, verdadeiras negociatas com um deus imaginário a quem se julga servir. O resultado que deve ser observado não é o instantâneo de um determinado momento na vida do pastor, mas toda a sua vida de fé; em outras palavras, o conjunto de sua obra. Em sua primeira carta, Pedro aconselha aos pastores: “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados, olhando por ele; não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer; não por ganância, mas desejosos de servir; não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória” (1 Pedro 5:2-4).

Oremos para que seja esta a conduta dos nossos pastores.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O BOM PASTOR - 1ª parte


Nesses tempos bicudos em que o bom nome de "pastor" é rotineiramente aviltado e profanado pelos aproveitadores e charlatães de plantão, devemos retornar à fonte – o Novo Testamento – para verificar o que Deus quer e requer daqueles que aceitam o nobre desafio de ser bons pastores do Seu rebanho. O assunto é bastante extenso, já que, biblicamente, a missão de um pastor tem a ver com a função de liderar o povo de Deus, no sentido da palavra grega ηγέομαι - hēgeomai (Atos 15:22, Hebreus 14:24)[1], e grandes líderes estão espalhados por todas as páginas da Bíblia. Entretanto, tentaremos aqui verificar alguns critérios que os apóstolos – afinal, os organizadores da Igreja primitiva - nos legaram para identificarmos as qualidades que se esperam de um bom pastor.

Os nomes bíblicos para pastor

A nomenclatura bíblica para a palavra traduzida para o português como "pastor" ou seus equivalentes ("bispo", "presbítero") não segue uma rigidez metodológica, por assim dizer, já que está claro para os destinatários das cartas apostólicas que, ao usarem esses termos, eles se referiam aos líderes da igreja para as quais foram dirigidas (Éfeso, Colossos, Filipos, etc.), bem como para toda a comunidade cristã que seria beneficiada e consolidada pelas cópias das cartas que circulavam entre os irmãos. Assim, vemos que eram usadas, basicamente, as palavras ποιμήν - poimēn ("pastor") - ε 'πισκοπή- episkopē ("bispo") e πρεσβύτερος - presbuteros ("presbítero"). Nas cartas apostólicas, não há uma clara distinção hierárquica ou funcional entre esses termos, como a tradição da Igreja Romana passaria a usar depois de algum tempo, em que o bispo (e o "patriarca" na Igreja Ortodoxa) passa a ter uma autoridade maior sobre uma jurisdição mais abrangente, e com o nome "pastor" sendo paulatinamente mudado para "padre" ou "sacerdote". Algumas igrejas reformadas seguiram esta distinção, como os presbiterianos, anglicanos e metodistas, no que foram acompanhadas por muitas igrejas neopentecostais da atualidade, sendo que algumas destas buscam uma legitimação ainda maior pela ressurreição do termo "apóstolo", com todas as prerrogativas inerentes ao pretenso "cargo", isto baseados numa interpretação controversa de Efésios 4:11[2], que, ainda que não seja objeto desta análise, parece-nos cristalino que o termo "apóstolo" é reservado aos doze mais próximos de Jesus, com a inclusão de Paulo, também testemunha de sua ressurreição, tanto que ele geralmente começava suas cartas se auto-intitulando de "apóstolo", mas quando escreve conjuntamente com Timóteo a carta aos filipenses (1:1), faz questão de referir-se a ambos como "servos de Jesus Cristo", zeloso que era da nomenclatura apropriada e da autoridade que ela lhe conferia com exclusividade. Passemos, então, ao estudo da qualificação de um bom pastor.

O que se espera de um pastor

Em sua primeira carta a Timóteo (3:1-7)[3], Paulo estabelece alguns critérios (também citados na carta a Tito[4]) que devem ser observados na ordenação de um bom pastor:

1) que seja irrepreensível – a palavra aqui traduzida por "irrepreensível" é ανεπίληπτος - anepilēptos – que não se pode culpar, irrefutável, também um derivativo da palavra επιλαμβάνομαι - epilambanomai - que não deve dar motivos para ser preso, ou conduzido preso às barras da Justiça, como Paulo e Silas em Atos 16:19[5]. Antes que alguns impostores tentem se equiparar a Paulo e Silas, é bom lembrar que eles foram levados às autoridades por estarem pregando o evangelho de Jesus, e não por crimes que cometeram abusando do santo nome do Mestre. No contexto da época (e que vale para os dias atuais), esta palavra ανεπίληπτος - anepilēptos – significa que não deve pairar sobre o pastor nenhuma reprovação de ordem moral ou doutrinária, ou seja, ele não pode defender heresias ou ser equiparado a um falso profeta. Na carta a Tito (1:6-8), ele cita esta qualidade duas vezes e também diz que o pastor deve ser "santo" (ARC), "consagrado" (NVI).

2) marido de uma mulher – embora Paulo fosse solteiro, e alardeasse essa condição[6], ele aconselha que o pastor seja casado com uma mulher, ênfase que se justifica numa sociedade como a em que ele vivia, em que muitos polígamos se convertiam a Cristo e não podiam aspirar ao episcopado. Já traziam enormes problemas para a igreja resolver. A versão católica Bíblia do Peregrino (BP) propõe a tradução "fiel à sua mulher", provavelmente mais uma paráfrase do que uma tradução literal, mas de igual importância. É interessante observar também que, no momento da posse do pastor, Paulo recomenda não só que ele seja casado (e fiel), mas também não seja viúvo, já que a idéia que o versículo dá é a de que a esposa deve estar viva, justamente para auxiliá-lo na difícil missão que tem pela frente. Isto não exclui a possibilidade de que haja excelentes pastores solteiros, não só por um curto período como por toda a vida, mas aí devem ter o dom especial de conter-se, que Paulo conhecia tão bem, como confessa em 1ª Coríntios 7.

3) vigilante, sóbrio – a palavra traduzida por "vigilante" é νηφάλεος , νηφάλιος - nēphaleos, nēphalios – que quer dizer também "sóbrio", "circunspecto", e é usada mais duas vezes no Novo Testamento, como o atributo "honesta" das mulheres do seguinte v. 11 de 1ª Timóteo 3, e como os "anciãos sóbrios" de Tito 2:2. Paulo reforça a idéia com a palavra traduzida por "sóbrio", que é σώφρων - sōphrōn – que é a qualidade de quem tem um excelente autocontrole, moderado (como em Tito 1:8), desapegado das discussões e observações apaixonadas, ou seja, "temperante", conforme a tradução proposta pela versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), "cheio de bom senso", conforme a tradução da Bíblia de Jerusalém (BJ) e "ponderado", como propõe a Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB). A quase-sinonímia de ambos os termos foi provavelmente proposital, já que Paulo queria dar ênfase a esses atributos. A NVI traduz a primeira palavra por "sóbrio" e a segunda por "prudente", por exemplo. Também se pode relacionar essas qualidades a "sensato, justo, ...que tenha domínio próprio" (Tito 1:8).

4) honesto – a palavra traduzida por "honesto" na ARC é κόσμιος – kosmios –que a NVI traduz por "respeitável", a ARA por "ordeiro", a TEB por "de maneiras corretas", a Bíblia do Peregrino (BP) por "modesto", e a BJ – curiosamente - por "simples no vestir". De fato, a palavra κόσμιος dá a ideia de decoro, bom comportamento, ordem no agir, vestir-se e comportar-se.

5) hospitaleiro – essa é uma das qualidades que a Bíblia mais preza, mas lamentavelmente é uma das mais negligenciadas. Desde os tempos do Antigo Testamento, a hospitalidade era um dever sagrado num meio inóspito como o Oriente Médio, em que povos nômades vagavam pelas planícies e desertos em busca de pasto para o seu gado, além de água e comida para eles mesmos, bem como de um lugar para adorar a Deus, ainda que muitas vezes servissem a deuses estranhos. E interessante observar que a gota d'água que fez com que o caldo punitivo entornasse sobre Sodoma e Gomorra (Gênesis 19) é a preocupação de Ló em exercer a hospitalidade aos dois anjos que foram visitá-lo, a ponto de oferecer a virgindade de duas filhas para que seus hóspedes não fossem violentados (vide também a correlação trágica entre hospitalidade e perversão no caso da mulher do levita em Juízes 19). Esperamos e confiamos que não seja necessário chegar a estes extremos, mas de igual maneira o pastor deve ser hospitaleiro, bom anfitrião dos convidados, amigo dos estrangeiros, como a raiz da palavra grega φιλόξενος - philoxenos – propõe. Paulo reforça esta qualidade em Romanos 12:13 ("Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade") e o escritor de Hebreus (13:2) aconselha: "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos", como o nosso amigo Ló.

6) apto para ensinar – a palavra aqui traduzida por "apto para ensinar" (ARC, ARA e NVI) é de fácil compreensão para o nosso português atual: διδακτικός - didaktikos – simples assim, didático. A BP traduz por "bom mestre", a BJ por "competente no ensino", a TEB por "capaz para ensinar". Curiosamente, talvez estejamos diante de uma contradição moderna, já que os charlatães e impostores, que abusam do evangelho de Jesus, são "bons de lábia", como diz a gíria. Paulo dava especial importância, entretanto, à dupla função primordial do pastor: pregar e ensinar, como mais adiante diz ao próprio Timóteo: "Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino" (1 Tim 5:17 – NVI). Em outro episódio, adverte também contra os oportunistas: "Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos para si" (Atos 20:29-30).

7) que governem bem a sua própria casa – aqui temos mais um, digamos, incentivo a que o pastor seja casado, tenha a sua família e a administre bem, não só as pessoas que a compõem, mas todos os negócios que a ela dizem respeito. Parece que isso era particularmente importante nos tempos de Paulo, já que os primeiros pastores eram, geralmente, homens já maduros, com muitos filhos, e que deveriam gerir bem os filhos, não os provocando à ira (Efésios 6:4), mas educando-os "com toda a dignidade" (NVI, BJ, BP, TED) com o exemplo de bom pai e chefe de família. Na carta a Tito (1:6), ele amplia a ideia: que o pastor "tenha filhos crentes que não sejam acusados de libertinagem e insubmissão". Já na carta a Timóteo, no versículo seguinte, Paulo faz questão de esclarecer a relação que faz entre esse atributo e a igreja, perguntando: "se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?" (1 Tim 3:5)

8) que tenha bom testemunho dos que estão de fora – "deve ter boa reputação perante os de fora" (NVI), "é conveniente ter boa fama entre os de fora" (BP). Fora de onde? A antiga versão árabe diz que essa reputação deve ser reconhecida "sem a igreja", ou seja, mesmo aqueles que estão fora da igreja, que desprezam o evangelho, devem dar bom testemunho do caráter do pastor como um ser humano comum nas suas atividades cotidianas. Não deixa de ser interessante (e curioso) que Paulo, por assim dizer, "transfira" aos que estão fora da igreja o julgamento deste quesito. Ele privilegiava a boa reputação do cristão perante a comunidade dos não-cristãos, algo que já havia dito pouco antes ao próprio Timóteo[7].

9) retendo firme a fiel palavra - "que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes" (Tito 1:9), " que se apegue firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar a outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela" (NVI), ou ainda "que se mantenha na doutrina autêntica, de modo que possa exortar com uma doutrina sadia e refutar os que afirmam o contrário" (BP). Paulo está, aqui, se reportando à sua autoridade apostólica, com o seu constante zelo pela sã doutrina, que ele fazia questão de relembrar a Timóteo (1 Tim 1:10, 2 Tim 4:3) e a Tito (1:9 e 2:1), sabedor que era de que muitos falsos profetas e aproveitadores tentavam se apoderar da mensagem do evangelho para servir aos seus próprios prazeres[8]. Sobre esses impostores, falaremos mais adiante, quando analisarmos o que Paulo diz sobre o que um pastor não deve ser.


[1] Atos 15:22 (NVI) Então os apóstolos e os presbíteros, com toda a igreja, decidiram escolher alguns dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Escolheram Judas, chamado Barsabás, e Silas, dois líderes entre os irmãos. Hebreus 13:24 (NVI) Saúdem a todos os seus líderes e a todos os santos. Os da Itália lhes enviam saudações. A versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) traduz por "homens distintos" e "chefes", respectivamente. Interessante notar que esses "líderes" estão entre "os apóstolos e presbíteros" da Igreja primitiva.
[2] Efésios 4:11 (ARC) E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
[3] (ARC) 1Ti 3:1 Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.1Ti 3:2 Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;1Ti 3:3 Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;1Ti 3:4 Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia1Ti 3:5 (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?);1Ti 3:6 Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.1Ti 3:7 Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.
[4] Tito 1:5 Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei:Tito 1:6 Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes.Tito 1:7 Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância;Tito 1:8 Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante;Tito 1:9 Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.
[5] Atos 16:19 E, vendo seus senhores que a esperança do seu lucro estava perdida, prenderam Paulo e Silas, e os levaram à praça, à presença dos magistrados.
[6] 1Co 7:7 Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra.1Co 7:8 Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu.1Co 7:9 Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.
[7] 1Timóteo 2:1 Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens;1Timóteo 2:2 pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e pacífica, com toda piedade e dignidade.1Timóteo 2:3 Isto é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador,
[8] Romanos 16:17 Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles.Romanos 16:18 Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação enganam os corações dos ingênuos.

A Bela e a Fera se separaram!


Temo afirmar que a maioria dos namoros acaba não porque um dos namorados se decepciona com o outro, mas sim porque um dos dois se decepciona com suas próprias expectativas. Vou tentar explicar melhor.

Temos que entender que um namoro começa antes mesmo de você conhecer a pessoa que você vai namorar, o namoro começa na sua cabeça. O seu futuro namoro começa agora, nas suas expectativas!

O que a maioria dos adolescentes ou jovens fazem enquanto não encontram seu namorado(a)? Eles ficam imaginando como eles(as) devem ser. E é aí que mora o perigo! Começa o namoro e, possivelmente, também começa o vírus que vai destruí-lo no futuro.

Dependendo de nossa expectativa, algo que era bom pode parecer ruim e uma coisa ruim pode até se tornar boa. Tudo depende da nossa expectativa.

Lembro-me de uma vez que chegou uma oferta de mil reais para um projeto do JV. Minha mãe, ao abrir o envelope, correu para falar com meu pai, jogou o envelope no colo dele e falou brincando: Bem! Chegou uma oferta de dez mil reais para o seu novo projeto. Meu pai nem conferiu o cheque, pulou de alegria, agradeceu a Deus e saiu para contar para os outros missionários a bênção que tinha acontecido. Depois de algumas horas, ao sentarmos à mesa para comer, meu pai comentou o que ia fazer com os dez mil reais e minha mãe corrigiu falando: Não amor, é mil reais, você não viu que eu estava brincando? Você não olhou o cheque? O rosto do meu pai mudou na hora, vocês precisavam ver a cara de decepção e raiva que ele estava naquele momento.

Ganhar mil reais de oferta sempre foi motivo de muita alegria aqui em casa, mas por causa da brincadeira de mau gosto da minha mãe, aqueles mil reais pareciam não valer nada.

Pois é assim também com o namoro, dependendo da expectativa que você tenha, o seu parceiro depois de algum tempo de namoro, mesmo valendo muito, pode parecer que não vale nada.

Os contos de fadas narram histórias que alimentam expectativas falsas, como a da princesa que encontra um sapo e depois de beijá-lo ele vira um príncipe, ou a história mais famosa, da Bela e a Fera que narra a história de uma princesa, que fica presa num castelo de uma fera horrível, mas que, com o tempo ele se torna um príncipe maravilhoso.

A expectativa do homem é diferente da expectativa da mulher. A mulher, já no começo do namoro, acredita que um dia o homem que ela gosta vai mudar, assim como o sapo/fera muda para príncipe e, na realidade o que acontece é que ELES NÃO MUDAM.

E os homens pensam que elas nunca vão mudar, sempre vão ser aquelas princesinhas que não mudam nos contos de fadas, mas o fato é que ELAS MUDAM.

É por isso que repito a frase que comecei este artigo: a maioria dos namoros acaba não porque um dos namorados se decepciona com o outro, mas sim porque um dos dois se decepciona com suas próprias expectativas.

Cuidado! Às vezes você está com um tesouro caro nas suas mãos, mas porque você “acha” que existe um tesouro maior no fim do arco-íris, você desvaloriza o que está com você!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Woodstock: 40 anos! Motivos para comemorar?


Por Ciro Sanches Zibordi

Na revolucionária década de 1960, surgiram nos Estados Unidos os hippies, um estranho movimento composto de jovens rebeldes. As roupas rasgadas e sujas, os cabelos compridos e as gírias eram o seu cartão de visita. Eram amantes de uma vida dissoluta e usavam tóxicos. Pregavam a liberação sexual e promoviam festivais de rock.

Empresários mal intencionados, movidos por oportunismo e ganância, resolveram, à época, organizar grandes festivais de rock ao ar livre, nos quais houvesse muito prazer e liberdade total para a juventude. As jovens que não quisessem se deixar violar corriam o risco de ser tratadas como “caretas”. Além disso, as drogas eram oferecidas livremente entre os participantes.

O primeiro festival de grande porte foi realizado em Londres, Inglaterra, no Hyde Park, a 5 de julho de 1969, e teve como protagonistas os Rolling Stones. O número de participantes desse concerto, marcado por violência, consumo de drogas e prostituição juvenil, foi estimado em 250 mil.

Mas o maior festival da época foi o de New York, Estados Unidos, batizado de Woodstock Music & Art Fair, que recebeu mais de quinhentas mil pessoas, entre hippies, fãs e curiosos, e teve duração de três dias, de 15 a 18 de agosto de 1969. O ingresso custava dezoito dólares, mas a maioria do público derrubou as cercas e invadiu o vasto local, para ouvir Jimi Hendrix, The Who, Jefferson Airplane, entre outros.

Woodstock fez despertar ainda mais o sentimento de revolta que havia entre os jovens e criou problemas sérios. Após esse festival, muitos estavam verdadeiramente dispostos a ir à luta armada contra os Estados Unidos para conseguir a sua independência e a liberdade sexual. Eles queriam fundar uma nova nação! O grande incentivador desse projeto utópico foi Abbie Hoffman, que lançou o livro Woodstock Nation.

A utopia dos woodstockmaníacos os levou a transformar um terreno abandonado da Universidade de Berkerley em um parque público, com jardins, playgrounds, fontes de água e concertos de rock. Ronald Reagan, governador da Califórnia, convocou a polícia e a guarda nacional para reprimir à força a invasão. Com paus e pedras, os jovens sonhadores enfrentaram as autoridades, mas perderam a guerra. Um estudante foi morto, e o terreno transformado em um estacionamento.

Depois de Woodstock, os festivais prosseguiram. Um deles, o de Altamont, reuniu cerca de trezentas mil pessoas e foi considerado um pesadelo de drogas, sujeira, doenças e violência, deixando um saldo de quatro mortes. A cena mais dramática foi a de um jovem negro, que teria puxado um revólver perto do palco. Enquanto Mick Jagger cantava (vestido em uma malha preta com signos da Cabala e uma capa vermelha que ele dizia ser de Lúcifer), o jovem foi brutalmente esfaqueado e atingido com golpes de taco de brilhar. As cenas do assassinato foram gravadas, tornando-se um grande sucesso de bilheteria em 1970.

Muitos astros que se apresentaram em Hyde Park, Woodstock, Altamont e outros festivais tiveram mortes trágicas: Brian Jones (do Rolling Stones), afogou-se, em 1969, após embriagar-se e ingerir drogas. Alan Wilson (do Canned Heat), Janis Joplin e Jimi Hendrix morreram em 1970, vítimas de overdose. Tim Hardin, em 1980, e Bob Hite (do Canned Heat), em 1981, também morreram por uso exagerado de drogas. Felix Pappalardi (do Mountain), foi morto a tiros por sua esposa, em 1983.

Além disso, inúmeros adolescentes morreram por overdose ou assassinados durante os shows, enquanto os empresários riam à toa, contabilizando seus lucros. Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrisom, três roqueiros muito badalados à época e lembrados até hoje, foram os principais propagadores da tríade “sexo, drogas e rock and roll”. Talentosos, famosos e bem pagos, mas, ao mesmo tempo, irresponsáveis e toxicômanos, levavam seus fãs a praticarem os seus mesmos atos inconsequentes.

Depois de Woodstock e da rebelde década de 1960, o mundo mudou, e para pior. A rebeldia, pouco a pouco, foi sendo confundida com as fases da adolescência e juventude. Na década de 1970, um estilo rebelde aparentemente revestido de inocência se instalou no Brasil. E, na década de 1980, passou a influenciar líderes de jovens cristãos. Desde então, o comportamento dos jovens e adolescentes, de dentro e de fora, vêm degradando, numa busca constante, ladeira abaixo, pela “liberdade”.

Woodstock, 40 anos! Motivos para comemorar?

PERDÃO, A FAXINA DA ALMA


Rev. Hernandes Dias Lopes

O perdão é a cura das memórias, a assepsia do coração, a faxina da alma. O perdão é uma necessidade vital e uma condição indispensável para termos uma vida em paz com Deus, com nós mesmos e com o próximo. Uma vez que somos falhos e pecadores, estamos sujeitos a erros. Por essa razão, temos motivos de queixas uns contra os outros. As pessoas nos decepcionam e nós decepcionamos as pessoas.

É impossível termos uma vida cristã saudável sem o exercício do perdão. Quem não perdoa não pode adorar a Deus nem mesmo trazer sua oferta ao altar. Quem não perdoa tem suas orações interrompidas e nem mesmo pode receber o perdão de Deus. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. Quem não perdoa é entregue aos verdugos da consciência. O perdão, portanto, não é uma opção para o crente, mas uma necessidade imperativa.

O perdão é uma questão de bom senso. Quando nutrimos mágoa no coração, tornamo-nos escravos do ressentimento. A amargura alastra em nós suas raízes e produz dois frutos malditos: a perturbação e a contaminação. Uma pessoa magoada vive perturbada e ainda contamina as pessoas à sua volta. Quando guardamos algum ranço no coração e nutrimos mágoa por alguém, acabamos convivendo com essa pessoa de forma ininterrupta. Se vamos descansar, essa pessoa torna-se o nosso pesadelo. Se vamos nos assentar para tomar uma refeição, essa pessoa tira o nosso apetite. Se nosso propósito é sair de férias com a família, essa pessoa pega carona conosco e estraga as nossas férias. Por essa razão, perdoar não é apenas uma questão imperativa, mas, também, uma atitude de bom senso. O perdão alivia a bagagem, tira o fardo das costas e terapeutiza a alma.

Mas, o que é perdão? Perdão é alforriar o ofensor. Perdoar é não cobrar nem revidar a ofensa recebida. O perdão não exige justiça; exerce misericórdia. O perdão não faz registro das mágoas. Perdoar é lembrar sem sentir dor.

Até quando devemos perdoar? A Bíblia nos diz que devemos perdoar assim como Deus em Cristo nos perdoou. Devemos perdoar de forma ilimitada e incondicional. Devemos perdoar não apenas até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

Por que devemos perdoar? Porque fomos perdoados por Deus. Os perdoados precisam ser perdoadores. No céu só entra aqueles que foram perdoados; e se não perdoarmos, não poderemos ser perdoados. Logo, todo crente em Cristo precisa praticar o perdão.

Quem deve tomar iniciativa no ato do perdão? Jesus disse que se nos lembrarmos que nosso irmão tem alguma coisa contra nós, devemos ir a ele. Não importa se somos o ofensor ou o ofendido. Sempre devemos tomar a iniciativa, e isso com humildade e espírito de mansidão. Precisamos entender que o tempo nem o silêncio são evidências de perdão. É preciso o confronto em amor. Há muitas pessoas doentes emocionalmente porque não liberam perdão. Há muitas pessoas fracas espiritualmente porque não têm a humildade de pedir e conceder perdão. Precisamos quebrar esses grilhões, a fim de vivermos a plenitude da liberdade cristã.

O perdão é a manifestação da graça de Deus em nós. Se nos afastarmos de Deus, nosso coração torna-se insensível. Porém, se nos aproximarmos de Deus, ele mesmo nos move e nos capacita a perdoar assim como ele em Cristo nos perdoou.

Fonte: hernandes dias lopes

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Depoimento de um médico oncologista do Recife


No início da minha vida profissional, senti-me atraído a tratar crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil.
Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria.Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes,particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.
Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim.
Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada por anos de tratamentos os mais diversos e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapia e radioterapia.
Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso para eu ficar boa.
Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
Meu anjo respondeu:
- Tio, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondida nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida! Pensando no que a morte representava para crianças, indaguei:
- E o que a morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muita saudade minha, emendou ela.Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço,perguntei ao meu anjo:
- E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não, tio? Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!
Um anjo passou por mim....
Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar.
Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.
Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo", que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.
Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinou, pela ajuda que me deu.Que bom que existe saudade! O amor que ficou é eterno.
Rogério Brandão
Médico oncologista clinico - Recife

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