terça-feira, 26 de agosto de 2008

O DOLOROSO SEGREDO DOS MUÇULMANOS CONVERTIDOS AO CRISTIANISMO


Ergun Caner

Você nunca leu uma história como esta!

Era uma reunião como centenas de outras de que tínhamos participado durante vinte anos. Meu irmão estava envolvido num debate amistoso com um outro árabe cristão, num seminário sobre os melhores métodos de pregar o Evangelho de Cristo aos muçulmanos. Os "pontos de discordância" eram praticamente os mesmos de sempre. De fato, já tínhamos discutido os mesmos assuntos em incontáveis reuniões e de várias maneiras. Tudo estava dentro dos padrões normais, até que um inocente estudante levantou-se para fazer a pergunta fatídica:
Como podemos proclamar fielmente o Evangelho a Israel? Os judeus estão envolvidos numa guerra horrível e pagando um preço tremendo. Como a experiência de ex-muçulmanos os ajuda a falar de Cristo aos judeus?
Meu irmão sorriu consigo mesmo. Embora ele soubesse a resposta, até aquele momento não sabia qual era a posição de seu colega. Seu companheiro de debates nesse fórum era um cristão evangélico muito culto que, como nós, se convertera do islamismo. Ele já havia falado inúmeras vezes a milhares de evangélicos americanos e era considerado um especialista em evangelização do Oriente Médio. O homem se ajeitou na cadeira, quase imperceptivelmente, e arrumou seus papéis, esperando que Emir respondesse a pergunta. Mas meu irmão ficou quieto e deixou que o silêncio pesado forçasse o outro a responder.
Lentamente, sem levantar os olhos, ele disse: "Bem, com relação à evangelização dos judeus, devemos sempre apresentar Jesus como o Messias. Isto é ponto pacífico. Entretanto... no que se refere ao conflito entre palestinos e israelenses... acho que devemos permanecer... neutros".
Bem-vindo ao nosso mundo!

"Abrindo o jogo"
Esta história poderá ser um choque ou uma surpresa para os leitores. Em todo caso, decidi contá-la, e "seja o que Deus quiser". Levei vinte anos para escrever este artigo. Estou prestes a trair meus irmãos segundo a carne. Estou prestes a revelar nosso terrível segredinho.
A maioria dos artigos e livros que escrevi em parceria com meu irmão foram trabalhos acadêmicos ou obras que falavam sobre como entender e alcançar os muçulmanos. Em 2002, quando nosso livro Unveiling Islam (O Islã Sem Véu) tornou-se um best-seller, ficamos sob os holofotes da mídia. Nossos debates, sermões e palestras passaram a ser assistidos por milhares de pessoas. Por duas vezes falamos aos milhares de pastores presentes à reunião anual da Convenção Batista do Sul dos EUA. Aparecemos em incontáveis programas de televisão, entrevistas e programas de rádio transmitidos em todo o país.
Em 2003, O Islã Sem Véu conquistou o Gold Medallion, prêmio concedido anualmente às melhores publicações cristãs dos Estados Unidos. Além disso, nossos livros More Than a Prophet (Mais Que Um Profeta) e Voices Behind the Veil (Vozes Detrás do Véu) – ainda não publicados no Brasil – também foram sucessos de venda e concorreram a vários prêmios. Atualmente, estamos escrevendo nosso maior livro, um manual de referência de um milhão de palavras que será o primeiro comentário cristão abrangendo todos os versos do Corão. Nosso editor vendeu todas as cópias de nosso último livro, Christian Jihad (Jihad Cristã), numa só conferência, em meados de 2004. Isso basta para mostrar quanto gostamos de escrever.
Porém, esses livros foram fáceis de escrever, se comparados com este artigo. O que escrevi aqui é algo extremamente pessoal e pensei e orei a respeito durante semanas.
Como muçulmanos, fomos ensinados a odiar os judeus. Como cristãos convertidos do islamismo, muitos de nós ainda os odiamos.
Entretanto, por mais difícil que fosse, senti que, finalmente, deveria contar a história. Porém, isso significava que meu irmão e eu, ambos professores em universidades cristãs, seríamos objeto de escárnio. Na verdade, já estamos acostumados com o desprezo dos muçulmanos. Eles vivem atrás de nós e nos ameaçam toda semana por e-mail, por carta ou pessoalmente. Eles protestam quando aparecemos em programas de TV e fazem escândalos nas igrejas onde pregamos.
Mas esse escárnio seria de um tipo completamente diferente. Ele viria de nossos próprios irmãos cristãos. Seríamos desprezados porque revelamos o segredo daqueles que, como nós, são crentes [em Cristo] de origem muçulmana.
Finalmente, decidi "me expor" na revista Israel My Glory. Conhecendo os editores como conheço, eu sabia que eles ficariam ao nosso lado. Pelo menos, Emir e eu não estaríamos sozinhos.

Um ódio residual.
Como muçulmanos, fomos ensinados a odiar os judeus. Como cristãos convertidos do islamismo, muitos de nós ainda os odiamos.
Leia de novo essas palavras, com atenção. Deixe seu significado e importância penetrar na sua mente. Com certeza, você já conheceu centenas de pessoas como nós durante sua vida. Os ex-muçulmanos saíram do segundo plano e subiram ao palco central de muitas conferências e reuniões denominacionais [nos EUA]. Embora todos nós sejamos questionados sobre assuntos ligados à apresentação do Evangelho aos muçulmanos, raramente nos perguntam a respeito de Israel, da nação judaica e das alianças entre Deus e Seu povo, narradas nas Escrituras.
Muitos de nós, cujos nomes você conhece e cujos livros já leu, ficam agradecidos porque ninguém os questiona sobre isso. Por quê? Porque muitos ex-muçulmanos que hoje são cristãos ainda sentem desdém, desprezo e ódio pelos judeus. Entre estes, estão muitos que falam em conferências, escrevem livros e pregam nas igrejas. Realmente, este é o nosso segredinho terrível.
Emir e eu chamamos isso de vestígios do islamismo. Quando éramos crianças, aprendemos nas madrassas (escolas religiosas islâmicas) que os judeus bebiam o sangue das crianças palestinas. As mensagens pregadas pelos imãs destilavam ódio aos judeus e à nação judaica. Para nós, eles eram os "porcos" e "cães" que tinham roubado nossa terra e massacrado nosso povo.
Então, quando um muçulmano se converte e abandona o islamismo, convencido de que Isa (Jesus) não era um profeta de Alá, mas sim o próprio Messias, ele se defronta com a mesma ameaça que nos atinge a todos. Muitos de nós fomos repudiados, expulsos de casa, deportados, presos, ou sofremos algo pior. Os que sobrevivem, começam vida nova separados da tradição de seus ancestrais e de sua família. Não resta quase nada de nossa vida antiga – exceto uma tendenciosidade que teima em não ir embora. Nós ainda odiamos os judeus. Tenho que confessar uma coisa: isso também aconteceu com meus irmãos e comigo.
No início da década de oitenta, após nossa conversão, meus irmãos e eu começamos uma nova vida em Jesus Cristo. Em muitos aspectos, a igreja tornou-se nossa família, já que nosso pai nos renegou. Eu estava ávido por conhecer nosso Senhor e a Sua Palavra, e lia a Bíblia apaixonadamente, às vezes durante três ou quatro horas por dia. Eu gastava muitas canetas marcadoras de texto à medida que ia estudando o Antigo Testamento.
Quando cheguei à aliança abraâmica, em Gênesis 12, tropecei. "Antigo Testamento" – resmunguei – "Jesus acabou com isso". Em pouco tempo, comecei a ficar aborrecido com a constante repetição do refrão: Abraão... Isaque... Jacó... José. Eu tinha sido ensinado a acreditar no que Maomé tinha escrito: Abraão... Ismael... Jesus... Maomé.
No Corão está escrito que Ismael, e não Isaque, foi levado para ser sacrificado no Monte. Essa é a doutrina central de nossas celebrações (Eid). Agora, eu estava sendo confrontado com o fato de que, 2200 anos depois de Moisés ter escrito Gênesis 22 e quase 2700 anos depois do evento ter ocorrido, Maomé mudou a história.
Rapidamente, pulei para o Novo Testamento. Eu tinha certeza de que iria descobrir que Jesus, meu Salvador, havia repudiado o Antigo Testamento e que meu preconceito poderia permanecer intocado.
Foi aí que cheguei a Romanos 9-11. "E o prêmio vai para"... os judeus, como a nação sacerdotal de Deus. Eu comecei a fazer perguntas. Comecei a ler livros. Cheguei até a assistir cultos de judeus messiânicos.
Então, lentamente... muito lentamente... comecei a amar os judeus com o mesmo amor que nosso Pai celestial tem por eles. Eles são os escolhidos de Deus – e a terra de Israel lhes pertence.
Levou algum tempo até que isso acontecesse comigo e com meus irmãos, e nós achávamos que todos os ex-muçulmanos passavam pela mesma experiência e chegavam à mesma conclusão que nós. Aparentemente, estávamos errados.

O mito da substituição
Pouco depois que apareci no programa de TV de Zola Levitt pela primeira vez, recebi uma enxurrada de e-mails de muçulmanos furiosos. Eu já esperava por isso. O que eu não esperava era um número tão grande de e-mails indignados vindos de cristãos anglo-saxões. "Meu caro irmão em Cristo" – escreviam eles – "a Igreja substituiu Israel!".
Um dia, depois de uma reunião, um ex-muçulmano, que na época pastoreava uma comunidade cristã egípcia, me chamou num canto e disse: "Você está prejudicando seu testemunho, meu amigo". Sua repreensão não muito amigável continuou: "As alianças de Deus com Israel através de Abraão, Davi e Ezequiel eram condicionais. Ele veio para os Seus, mas eles O rejeitaram. A Igreja agora é o novo Israel".
Depois disso, ele me indicou vários livros evangélicos para provar seu argumento. Comecei a ler esses estudos teológicos e sei que você, caro leitor, tem muitos deles em sua estante. Seus autores são protestantes reformados, escritores evangélicos e até pregadores muito conhecidos no rádio e na televisão. Todos eles diziam a mesma coisa: Israel foi substituído pela Igreja.

Bem, agora, vinte anos depois, permitam-me ser enfático, para que não haja nenhum mal-entendido:

A aliança de Deus com Israel foi incondicional. Israel continua sendo a nação escolhida por Deus.

Embora os judeus sejam, em termos bíblicos, um povo "teimoso" e de "dura cerviz", Deus não os abandonou. Qualquer outro ensino é anti-bíblico, ímpio, racista e anti-semita. Não me importa o quanto esses autores sejam respeitados nem o que isso vai me custar, em termos de amizades. Eu não posso abandonar o povo de Deus nem mudar o plano divino. Romanos 9 a 11 ainda fazem parte da Bíblia.

O mito da Palestina
Atualmente, os conflitos sobre a posse de Jerusalém estão todos os dias no noticiário. Diariamente, vemos bombas e balas voando para todos os lados, enquanto ressoa uma luta que já dura cinqüenta anos. E eu pergunto: "Onde está a voz dos cristãos?" Infelizmente, muitos estão emudecidos pelo resíduo do ódio a Israel que trazem em seu coração.
Já perdi a conta de quantas vezes Emir e eu pedimos que outros ex-muçulmanos nos mostrassem onde fica a "Palestina" no mapa. Perguntamos também quando foi que os palestinos tiveram um governo estabelecido, uma capital, uma embaixada?
É claro que a resposta é "nunca". O conceito de um país chamado "Palestina" só surgiu depois que Israel se tornou uma nação. Trata-se de um país inteiramente hipotético, baseado não numa origem étnica comum, mas sim num ódio comum a Israel. Conforme ilustrei no início deste artigo, nossos colegas árabes e persas têm encontrado companheiros entre os teólogos ocidentais que adotaram todo um esquema teológico e escatológico baseado nesse ódio comum. Meu irmão e eu estamos agora na irônica posição de sermos ex-muçulmanos e turcos persas defendendo Israel contra cristãos anglo-saxões e europeus de raça branca. Que mundo estranho!
Concordo com o ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu: "Jerusalém é a eterna e indivisível Cidade de Deus". Esperamos, um dia, encontrá-lo e dizer-lhe isso.

O mito de Alá
Outro componente estranho dessa questão é o uso da palavra "Alá". Recentemente, ouvimos um missionário evangélico falar sobre o movimento "Alá-leuia", em que os missionários estão usando a palavra árabe "Alá" para proclamar o Evangelho. Alguns chegam ao cúmulo de entrar nas mesquitas e ficar na posição de oração (rakat), mas orando a Jesus em pensamento. Alá, concluem eles, é só o nome árabe de Deus. Adonai e Alá seriam o mesmo Deus.
Mesmo correndo o risco de ofender mais alguns leitores, quero deixar uma coisa registrada: Alá não é o nome árabe de "Deus". Alá é um ídolo.
Em todos os debates de que participamos em universidades e entre colegas, meu irmão e eu nunca encontramos um ulema muçulmano que acredite que o Alá do Corão e o Deus da Bíblia sejam o mesmo Deus. Nunca. Se o monoteísmo é o único critério para distinguir a verdade neste caso, então deixe-me dizer uma coisa: se Alá é o mesmo deus que o Deus vivo, então Elias deve desculpas aos profetas de Baal (que também eram monoteístas).
Então, por que usar essa palavra? Perguntei a um árabe cristão por que ele continuava usando o termo "Alá" quando orava, e ele me respondeu baixinho: "Eu não consigo me convencer a usar os nomes hebraicos, sabe?"
Sim. Eu sei. Infelizmente, eu sei.
Estou ciente das implicações deste artigo. Eu as aceito. Numa única crítica dura, de poucas páginas, ataquei a teologia da substituição, a escatologia puritana, os teólogos modernos e denominações inteiras. Entretanto, meus vinte anos de silêncio acabaram. Nosso segredinho terrível foi revelado.
Emir e eu continuaremos do lado de Israel no conflito contra nossos parentes segundo a carne. Continuaremos contestando a teologia da substituição sempre que necessário.

Também continuaremos a defender Israel como nação escolhida por Deus, porque Ele nos manda fazer isso no Antigo e no Novo Testamento. Os judeus precisam aceitar Jesus como o Messias, isto é certo. Mas eles também precisam que a comunidade cristã – a Igreja – fique ao lado deles num mundo que quer a sua destruição. Isso começa agora.
(Israel My Glory - Ergun Caner - http://www.beth-shalom.com.br)

A IGREJA AO GOSTO DO FREGUÊS


O movimento chamado "igreja ao gosto do freguês" está invadindo muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através da aplicação das últimas técnicas de marketing. Tipicamente, ele começa pesquisando os não-crentes (que um dos seus líderes chama de "desigrejados" ou "João e Maria desigrejados"). A pesquisa questiona os que não freqüentam quaisquer igrejas sobre o tipo de atração que os motivaria a assistir às reuniões. Os resultados do questionário mostram as mudanças que poderiam ser feitas nos cultos e em outros programas para atrair os "desigrejados", mantê-los na igreja e ganhá-los para Cristo. Os que desenvolvem esse método garantem o crescimento das igrejas que seguirem cuidadosamente suas diretrizes aprovadas. Praticamente falando, dá certo!
Duas igrejas são consideradas modelos desse movimento: Willow Creek Community Church (perto de Chicago), pastoreada por Bill Hybels, e Saddleback Valley Church (ao sul de Los Angeles) pastoreada por Rick Warren. Sua influência é inacreditável. Willow Creek formou sua própria associação de igrejas, com 9.500 igrejas-membros. Em 2003, 100.000 líderes de igrejas assistiram no mínimo a uma conferência para líderes realizada por Willow Creek. Acima de 250.000 pastores e líderes de mais de 125 países participaram do seminário de Rick Warren ("Uma Igreja com Propósitos"). Mais de 60 mil pastores recebem seu boletim semanal.
Visitamos Willow Creek há algum tempo. Pareceu-nos que essa igreja não poupa despesas em sua missão de atrair as massas. Depois de passar por cisnes deslizando sobre um lago cristalino, vê-se o que poderia ser confundido com a sede de uma corporação ou um shopping center de alto padrão. Ao lado do templo existe uma grande livraria e uma enorme área de alimentação completa, que oferece cinco cardápios diferentes. Uma tela panorâmica permite aos que não conseguiram lugar no santuário ou que estão na praça de alimentação assistirem aos cultos. O templo é espaçoso e moderno, equipado com três grandes telões e os mais modernos sistemas de som e iluminação para a apresentação de peças de teatro e musicais.
Sem dúvida, Willow Creek é imponente, mas não é a única megaigreja que tem como alvo alcançar os perdidos através dos mais variados métodos.
Megaigrejas através dos EUA adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, espaços para guardar equipamentos, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds, tudo para o progresso do Evangelho. Pelo menos é o que dizem. Ainda que algumas igrejas estejam lotadas, sua freqüência não é o único elemento que avaliamos ao analisar essa última moda de "fazer igreja".
O alvo declarado dessas igrejas é alcançar os perdidos, o que é bíblico e digno de louvor. Mas o mesmo não pode ser dito quanto aos métodos usados para alcançar esse alvo. Vamos começar pelo marketing como uma tática para alcançar os perdidos. Fundamentalmente, marketing traça o perfil dos consumidores, descobre suas necessidades e projeta o produto (ou imagem a ser vendida) de tal forma que venha ao encontro dos desejos do consumidor. O resultado esperado é que o consumidor compre o produto. George Barna, a quem a revista Christianity Today (Cristianismo Hoje) chama de "o guru do crescimento da igreja", diz que tais métodos são essenciais para a igreja de nossa sociedade consumista. Líderes evangélicos do movimento de crescimento da igreja reforçam a idéia de que o método de marketing pode ser aplicado – e eles o têm aplicado – sem comprometer o Evangelho. Será?
Em primeiro lugar o Evangelho, e mais significativamente a pessoa de Jesus Cristo, não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos. Não podem ser modificados ou adaptados para satisfazer as necessidades de nossa sociedade consumista. Qualquer tentativa nessa direção compromete de algum modo a verdade sobre quem é Cristo e do que Ele fez por nós. Por exemplo, se os perdidos são considerados consumidores, e um mandamento básico de marketing diz que o freguês sempre tem razão, então qualquer coisa que ofenda os perdidos deve ser deixada de lado, modificada ou apresentada como sem importância. A Escritura nos diz claramente que a mensagem da cruz é "loucura para os que se perdem" e que Cristo é uma "pedra de tropeço e rocha de ofensa" (1 Co 1.18 e 1 Pe 2.8).
Megaigrejas adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds.
Algumas igrejas voltadas ao consumidor procuram evitar esse aspecto negativo do Evangelho de Cristo enfatizando os benefícios temporais de ser cristão e colocando a pessoa do consumidor como seu principal ponto de interesse. Mesmo que essa abordagem apele para a nossa geração acostumada à gratificação imediata, ela não é o Evangelho verdadeiro nem o alvo de vida do crente em Cristo.
Em segundo lugar, se você quiser atrair os perdidos oferecendo o que possa interessá-los, na maior parte do tempo estará apelando para seu lado carnal. Querendo ou não, esse parece ser o modus operandi dessas igrejas. Elas copiam o que é popular em nossa cultura – músicas das paradas de sucesso, produções teatrais, apresentações estimulantes de multimídia e mensagens positivas que não ultrapassam os trinta minutos. Essas mensagens freqüentemente são tópicas, terapêuticas, com ênfase na realização pessoal, salientando o que o Senhor pode oferecer, o que a pessoa necessita – e ajudando-a na solução de seus problemas.
Essas questões podem não importar a um número cada vez maior de pastores evangélicos, mas, ironicamente, estão se tornando evidentes para alguns observadores seculares. Em seu livro The Little Church Went to Market (A Igrejinha foi ao Mercado), o pastor Gary Gilley observa que o periódico de marketing American Demographics reconhece que as pessoas estão:
...procurando espiritualidade, não a religião. Por trás dessa mudança está a procura por uma fé experimental, uma religião do coração, não da cabeça. É uma expressão de religiosidade que não dá valor à doutrina, ao dogma, e faz experiências diretamente com a divindade, seja esta chamada "Espírito Santo" ou "Consciência Cósmica" ou o "Verdadeiro Eu". É pragmática e individual, mais centrada em redução de stress do que em salvação, mais terapêutica do que teológica. Fala sobre sentir-se bem, não sobre ser bom. É centrada no corpo e na alma e não no espírito. Alguns gurus do marketing começaram a chamar esse movimento de "indústria da experiência" (pp. 20-21).
Existe outro item que muitos pastores parecem estar deixando de considerar em seu entusiasmo de promover o crescimento da igreja atraindo os não-salvos. Mesmo que os números pareçam falar mais alto nessas "igrejas ao gosto do freguês" (um número surpreendente de igrejas nos EUA (841) alcançaram a categoria de megaigreja, com 2.000 a 25.000 pessoas presentes nos finais de semana), poucos perceberam que o aumento no número de membros não se deve a um grande número de "desigrejados" juntando-se à igreja.
Durante os últimos 70 anos, a percentagem da população dos EUA que vai à igreja tem sido relativamente constante (mais ou menos 43%). Houve um crescimento, chegando a 49% em 1991 (no tempo do surgimento dessa nova modalidade de igreja), mas tal crescimento diminuiu gradualmente, retornando a 42% em 2002 (www.barna.org). De onde, então, essas megaigrejas, que têm se esforçado para acomodar pessoas que nunca se interessaram pelo Evangelho, conseguem seus membros? Na maior parte, de igrejas menores que não estão interessadas ou não têm condições financeiras de propiciar tais atrações mundanas. O que dizer das multidões de "desigrejados" que supostamente se chegaram a essas igrejas? Essas pessoas constituem uma parcela muito pequena das congregações. G.A. Pritchard estudou Willow Creek por um ano e escreveu um livro intitulado Willow Creek Seeker Services (Baker Book House, 1996). Nesse livro ele estima que os "desigrejados", que seriam o público-alvo, constituem somente 10 ou 15% dos 16.000 membros que freqüentam os cultos de Willow Creek.
O Evangelho e a pessoa de Jesus Cristo não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos.
Se essa percentagem é típica entre igrejas "ao gosto do freguês", o que provavelmente é o caso, então a situação é bastante perturbadora. Milhares de igrejas nos EUA e em outros países se reestruturaram completamente, transformando-se em centros de atração para "desigrejados". Isso, aliás, não é bíblico. A igreja é para a maturidade e crescimento dos santos, que saem pelo mundo para alcançar os perdidos. Contudo, essas igrejas voltaram-se para o entretenimento e a conveniência na tentativa de atrair "João e Maria", fazendo-os sentirem-se confortáveis no ambiente da igreja. Para que eles continuem freqüentando a "igreja ao gosto do freguês", evita-se o ensino profundo das Escrituras em favor de mensagens positivas, destinadas a fazer as pessoas sentirem-se bem consigo mesmas. À medida que "João e Maria" continuarem freqüentando a igreja, irão assimilar apenas uma vaga alusão ao ensino bíblico que poderá trazer convicção de pecado e verdadeiro arrependimento. O que é ainda pior, os novos membros recebem uma visão psicologizada de si mesmos que deprecia essas verdades. Contudo, por pior que seja a situação, o problema não termina por aí.
A maior parte dos que freqüentam as "igrejas ao gosto do freguês" professam ser cristãos. No entanto, eles foram atraídos a essas igrejas pelas mesmas coisas que atraíram os não-crentes, e continuam sendo alimentados pela mesma dieta biblicamente anêmica, inicialmente elaborada para não-cristãos. Na melhor das hipóteses, eles recebem leite aguado; na pior das hipóteses, "alimento" contaminado com "falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam" (2 Tm 6.20). Certamente uma igreja pode crescer numericamente seguindo esses moldes, mas não espiritualmente.
Além do mais, não há oportunidades para os crentes crescerem na fé e tornarem-se maduros em tal ambiente. Tentando defender a "igreja ao gosto do freguês", alguns têm argumentado que os cultos durante a semana são separados para discipulado e para o estudo profundo das Escrituras. Se esse é o caso, trata-se de uma rara exceção e não da regra!
Como já notamos, a maioria dessas igrejas, no uso do seu tempo, energia e finanças tem como alvo acomodar os "desigrejados". Conseqüentemente, semana após semana, o total da congregação recebe uma mensagem diluída e requentada. Então, na quarta-feira, quando a congregação usualmente se reduz a um quarto ou a um terço do tamanho normal, será que esse pequeno grupo recebe alimentação sólida da Palavra de Deus, ensino expositivo e uma ênfase na sã doutrina? Dificilmente. Nunca encontramos uma "igreja ao gosto do freguês" onde isso acontecesse. As "refeições espirituais" oferecidas nos cultos durante a semana geralmente são reuniões de grupos e aulas visando o discernimento dos dons espirituais, ou o estudo de um "best-seller" psico-cristão, ao invés do estudo da Bíblia.
Talvez o aspecto mais negativo dessas igrejas seja sua tentativa de impressionar os "desigrejados" ao mencionar especialistas considerados autoridades em resolver todos os problemas mentais, emocionais e comportamentais das pessoas: psicólogos e psicanalistas. Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão. Seus milhares de conceitos e centenas de metodologias não-comprovados são contraditórios e não científicos, totalmente não-bíblicos, como já documentamos em nossos livros e artigos anteriores. Pritchard observa:
...em Willow Creek, Hybels não somente ensina princípios psicológicos, mas freqüentemente usa esses mesmos princípios como guias interpretativos para sua exegese das Escrituras – o rei Davi teve uma crise de identidade, o apóstolo Paulo encorajou Timóteo a fazer análise e Pedro teve problemas em estabelecer seus limites. O ponto crítico é que princípios psicológicos são constantemente adicionados ao ensino de Hybels" (p. 156)
Durante minha visita a Willow Creek, o pastor Hybels trouxe uma mensagem que começou com as Escrituras e se referia aos problemas que surgem quando as pessoas mentem. Contudo, ele se apoiou no psiquiatra M. Scott Peck, o autor de The Road Less Travelled (Simon & Schuster, 1978) quanto às conseqüências desastrosas da mentira. Nesse livro, M. Scott Peck declara (pp. 269-70): "Deus quer que nos tornemos como Ele mesmo (ou Ela mesma)"!
Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão.
A Saddleback Community Church está igualmente envolvida com a psicoterapia. Apesar de se dizer cristocêntrica e não centrada na psicologia, essa igreja tem um dos maiores números de centros dos Alcoólicos Anônimos e patrocina mais de uma dúzia de grupos de ajuda como "Filhos Adultos Co-Dependentes de Viciados em Drogas", "Mulheres Co-Viciadas Casadas com Homens Compulsivos Sexuais ou com Desordens de Alimentação" e daí por diante. Cada grupo é normalmente liderado por alguém "em recuperação" e os autores dos livros usados incluem psicólogos e psiquiatras (www.celebraterecovery.com). Apesar de negar o uso de psicologia popular, muito dela permeia o trabalho de Rick Warren, incluindo seu best-seller The Purpose Driven Life (A Vida Com Propósito), que já rendeu sete milhões de dólares. Em sua maior parte, o livro fala de satisfação pessoal, promove a celebração da recuperação e está cheio de psicoreferências tais como "Sansão era dependente".
A mensagem principal vinda das igrejas psicologicamente motivadas de Willow Creek e Saddleback é a de que a Palavra de Deus e o poder do Espírito Santo são insuficientes para livrar uma pessoa de um pecado habitual e para transformá-la em alguém cuja vida seja cheia de fruto e agradável a Deus. Entretanto, o que essas igrejas dizem e fazem tem sido exportado para centenas de milhares de igrejas ao redor do mundo.
Grande parte da igreja evangélica desenvolveu uma mentalidade de viagem de recreio em um cruzeiro cheio de atrações, mas isso vai resultar num "Titanic espiritual". Os pastores de "igrejas ao gosto do freguês" (e aqueles que estão desejando viajar ao lado deles) precisam cair de joelhos e ler as palavras de Jesus aos membros da igreja de Laodicéia (Ap 3.14-21). Eles eram "ricos e abastados" e, no entanto, deixaram de reconhecer que aos olhos de Deus eram "infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus". Jesus, fora da porta dessas igrejas, onde O colocaram desapercebidamente, oferece Seu conselho, a verdade da Sua Palavra, o único meio que pode fazer com que suas vidas sejam vividas conforme Sua vontade. Não pode existir nada melhor aqui na terra e na Eternidade! (TBC - http://www.chamada.com.br)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

OS NOBRES BEREANOS


ATOS 17:11
“Ora, os bereanos eram de caráter mais nobre do que os de Tessalônica, pois receberam a mensagem com grande avidez, e examinavam todos os dias as Escrituras, para ver se o que Paulo dizia era verdade".
Quando ministros e crentes mencionam os bereanos, eles geralmente têm em mente um grupo de indivíduos que tinham discernimento, e que não eram facilmente enganados por qualquer nova mensagem que aparecesse, pois eles eram cuidadosos em checar tudo o que um pregador dizia com a Escritura. Esse não era um povo crédulo, e eles não aceitavam qualquer coisa que alguém ensinasse, a menos que viesse diretamente das Escrituras. E visto que a Escritura chama esse povo de “nobre”, é apropriado imitar o seu exemplo.
Este em si mesmo é um ensino bíblico sadio, e outras partes da Escritura também o confirmam. Por exemplo, 1 Tessalonicenses 5:21 diz: “Mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom”, e 1 João 4:1 adverte: “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo”.
Contudo, ao dirigir a maior parte da sua atenção para a última porção de Atos 17:11, que diz que os bereanos “examinavam todos os dias as Escrituras, para ver se o que Paulo dizia era verdade”, muitas pessoas têm falhando em reconhecer o ponto principal do versículo, e um dos pontos principais da primeira metade de Atos 17.
A virtude real dos bereanos é afirmada pela ênfase principal do versículo, e não na explicação ou qualificação da ênfase principal do versículo. Visto que os bereanos são freqüentemente apresentados como modelos dignos de nossa imitação, uma visão distorcida ou parcial de sua virtude resultará numa imitação distorcida ou parcial, e assim, um caráter defeituoso precisamente na área na qual desejamos aprender deles.
A ênfase principal do versículo 11 é facilmente captada se simplesmente lermos o versículo inteiro, e então o versículo no contexto da primeira metade de Atos 17.
A palavra traduzida como “nobre” pode se referir à nascimento nobre ou caráter nobre. Ela é claramente usada no último sentido em nosso versículo. Quanto à de que forma os bereanos eram nobres, o versículo aplica a palavra a eles em contraste com o caráter dos “de Tessalônica”. Portanto, para entender o caráter nobre dos bereanos, devemos primeiramente retornar ao começo de Atos 17 e ler sobre os tessalonicenses:
"Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga judaica. Segundo o seu costume, Paulo foi à sinagoga e por três sábados arrazoou com eles a partir das Escrituras, explicando e provando que o Cristo deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos. E dizia: Este Jesus que lhes proclamo é o Cristo. Alguns dos judeus foram persuadidos e se uniram a Paulo e Silas, bem como muitos gregos tementes a Deus, e não poucas mulheres de alta posição."(Atos 17:1-4)
Sempre que Paulo chegava numa nova localidade em suas jornadas missionárias, era o seu costume visitar primeiro as sinagogas locais, de forma que ele pudesse pregar aos judeus (veja v. 10, 17).[1] Os judeus professavam a fé na Escritura, e deveria ser natural para eles abraçar avidamente uma mensagem que declarasse o perfeito cumprimento das promessas da Escritura. Assim, Paulo “discutiu com eles a partir das Escrituras”, e era sobre a base da Escritura que ele pregava o evangelho, e isso significava “explicar e provar que o Cristo deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos”.
Como resultado, vários do povo (tanto judeus como gregos) creram e foram salvos. Mas estes não eram os de “Tessalônica”, dos quais o versículo 11 está falando. Antes, os problemas parecem começar a partir do versículo 5:
"Mas os judeus ficaram com inveja. Reuniram alguns homens perversos dentre os desocupados e, com a multidão, iniciaram um tumulto na cidade. Invadiram a casa de Jasom, em busca de Paulo e Silas, a fim de trazê-los para o meio da multidão. Contudo, não os achando, arrastaram Jasom e alguns outros irmãos para diante dos oficiais da cidade, gritando: Esses homens, que têm causado alvoroço por todo o mundo, agora chegaram aqui, e Jasom os recebeu em sua casa. Todos eles estão agindo contra os decretos de César, dizendo que existe um outro rei, chamado Jesus. Ouvindo isso, a multidão e os oficiais da cidade ficaram agitados. Então receberam de Jasom e dos outros a fiança estipulada e os soltaram." (Atos 17:5-9)
Como resultado de uma resistência zelosa à mensagem do evangelho, esses judeus (Atos 17:5-9) incitaram um tumulto na cidade contra os apóstolos. Eles manipularam a situação contra esses pregadores do evangelho fazendo acusações enganosas contra eles.
O versículo 10 mostra como os cristãos ajudaram Paulo e Silas a escaparem para Beréia. Política religiosa é um mal horrível, e ela é abundante em nossos dias. Até mesmos nos melhores círculos cristãos, os conflitos religiosos são freqüentemente realizados, não pelo discurso racional, mas incitando também a multidão, e apelando à pressão social e política. Um lado do assunto é freqüentemente preferido pela multidão e pelas instituições, e assim os argumentos bíblicos e os apelos racionais são freqüentemente suprimidos e ignorados.
Algumas vezes uma aparência de refutação pode aparecer, mas mesmo então, freqüentemente a posição antibíblica e irracional ainda é apoiada mais por sua popularidade com as pessoas e as instituições do que pela revelação bíblica. Mas aqueles que permanecem firmes sobre a Escritura e a Razão[2] não precisam temer, isto é, exceto pelas próprias almas daqueles que os perseguem.
Em todo o caso, é no contraste com esses tessalonicenses que o versículo 11 louva o caráter nobre dos bereanos. Conseqüentemente, devemos esperar que a virtude dos bereanos seja o oposto do vício dos tessalonicenses. Imediatamente percebemos que essa virtude não pode ser aquela deles checarem a pregação dos apóstolos; de outra forma, isso implicaria que o vício dos tessalonicenses era o de que eles criam muito rápido no evangelho, mas os versículos 5-9 nos diz o oposto.
A virtude dos bereanos era o oposto do vício dos tessalonicenses em que os bereanos “receberam a mensagem com grande avidez”. Diferentemente dos judeus em Tessalônica, os bereanos não duvidaram ou resistiram à mensagem do evangelho, e eles não perseguiram os pregadores ou lhes deram tempos difíceis. Essa é a ênfase principal no versículo 11, e quando procurando imitar os bereanos, essa é a característica que devemos primeiro reconhecer e considerar.
Muitos comentários falham em reconhecer essa ênfase primária ou lhe dar o lugar devido em suas exposições, e nesse momento eu não me lembro de ter ouvido nem sequer um ministro que tenha feito desse o ponto principal em seu sermão, quando ele pregou sobre o versículo 11. Eu não duvido que alguns ministros tenham reconhecido o ponto primário do versículo e tenham pregado de acordo com ele, mas esses exemplos parecem ser pouquíssimos. Pelo contrário, o versículo é mui freqüentemente usado para ensinar o discernimento, e duma forma que obscurece a característica positiva da aceitação ávida da palavra de Deus.
Juntamente com muitos outros, Matthew Henry é uma notável exceção nessa negligência. Para um comentário que tinha que cobrir tantos assuntos, ele, apesar disso, devota uma seção significante sobre como os bereanos eram ávidos em receber o evangelho. A seção que imediatamente segue, sobre discernimento, é apenas levemente longa. Ele escreve:
Eles nem prejulgaram a causa, nem foram embora com inveja dos administradores dela, como os judeus em Tessalônica o fizeram, mas muito generosamente deram tanto a ela como a eles uma justa audiência... Eles não fizerem querelas com a palavra, nem encontraram defeito, nem procuraram ocasião contra os pregadores dela; mas deram-lhe boas vindas, e colocaram uma construção cândida sobre tudo o que foi dito. Nisso eles eram mais nobres do que os judeus em Tessalônica...[3]
É somente com isso em mente que podemos entender apropriadamente o versículo 11, e entender com que atitude os bereanos “examinaram as Escrituras”. Os bereanos eram nobres em caráter, não porque eles eram duvidosos ou difíceis de convencer, mas porque eles eram ensináveis e receptivos ao evangelho. Por essa razão, algumas traduções e comentários sugerem traduzir “nobres” como “liberais”, “generosos”, “despreconceituosos” ou “mente-aberta”.[4]
Contudo, essa “mente-aberta” é ao mesmo tempo específica e restrita. É nesse ponto que deveríamos proceder para a parte final do versículo, que nos diz que, embora os bereranos fossem ávidos para ouvir a palavra de Deus, eles não eram de forma alguma pessoas tolas ou crédulas. E porque já temos considerado o ponto principal do versículo, que é dizer que eles eram ensináveis e receptivos ao evangelho, estamos prontos agora para considerar como essa abertura é qualificada.
Eles não eram como o povo de Atenas, que “não se preocupavam com outra coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades” (v. 21). Eles não eram ávidos para ouvir os apóstolos por causa de uma mera curiosidade ou para estímulo ou entretenimento intelectual, e eles não estavam simplesmente abertos para qualquer nova teoria ou doutrina que pedisse sua atenção. Antes, eles estavam interessados em aprender a verdade, e, verificar se “aquelas coisas eram assim” (KJV), e não simplesmente em ouvir algo que soasse interessante ou incomum. E para determinar se “aquelas coisas eram assim”, ou seja, as que Paulo pregava, eles “examinavam as Escrituras”.
Assim, eles mostraram que eles tinham “mente-aberta”, não no sentido de que eles eram tolos ou crédulos, e ainda menos relativistas ou pluralistas. Eles não estavam abertos para qualquer coisa ou qualquer um. Mas, aspirando a verdade, eles mostraram que sua abertura era racional, e por examinar as Escrituras, eles mostraram que sua abertura era bíblica, de forma que todas as teorias e doutrinas não-bíblicas eram excluídas logo no início. Isso também é parte de seu caráter nobre, e é também o que os crentes hoje devem imitar.
Além do mais, visto que é dessa maneira e sobre essa base que “muitos deles creram”, isso mostra também que a sua resposta “não era uma mera resposta emocional ao evangelho, mas uma baseada na convicção intelectual”.[5] A fé deles era uma fé genuína, uma convicção intelectual sobre a verdade revelada, e uma vida espiritual fundamentada nessa convicção bíblica e racional pode sobreviver aos testes de perseguição e tentação.
Assim como devemos seguir seu exemplo como ouvintes, não deveríamos ficar satisfeitos com nada menor da nossa audiência como pregadores. E isso significa que os ministros cristãos devem se esforçar para serem o mesmo tipo de pregadores que os bereanos ouviam, de forma que, como Paulo, devemos pregar e arrazoar “a partir das Escrituras, explicando e provando” Cristo aos nossos ouvintes.
Ainda, por causa da forma desequilibrada com que muitas pessoas têm aplicado nosso versículo, devemos novamente relembrar a nós mesmos de seu ponto principal, e a razão principal pela qual os bereanos foram chamados nobres. Eles não foram elogiados porque eram suspeitos e hostis, mas porque eram ávidos em ouvir o evangelho.
A atitude deles era: “Você tem nos trazido uma boa mensagem de Deus, vejamo-la também a partir das Escrituras”, e não, “Não nos faça de estúpidos e crédulos. Não vamos deixar você partir impune, e não queremos crer em nada que você diga, a menos que a prove para nós a partir das Escrituras”. Ora, a primeira atitude não reflete qualquer credulidade também, mas é caracterizada por um caráter nobre, uma abertura à revelação de Deus.
Deus não é agradado quando o discernimento se torna resistência e dureza de coração disfarçado. Como a Escritura diz: “Hoje, se ouvirem a sua voz, não endureçam o coração” (Hebreus 4:7). Cristãos de caráter “nobre” não são maliciosamente suspeitos, mas são inteligentemente ensináveis. Eles respeitam os mensageiros de Deus; são ávidos em ouvir a Palavra de Deus; e rápidos para crer e obedecer.
Assim, se vamos imitar os nobres bereanos, então recebamos prontamente a palavra de Deus de ministros fiéis, e seremos tão ávidos em afirmar e praticar a verdade que eles proclamam que examinaremos a Escritura “todos os dias” (v. 11), de forma que construiremos nossa fé e adoração correta sobre a firme rocha da revelação também.
Continuemos a ensinar os crentes a “testar todas as coisas”, mas quando falarmos sobre os bereanos, relatemos também acuradamente a natureza de seu caráter nobre, que eles eram ávidos em ouvir e receber a palavra de Deus. E nós não devemos perder essa devoção simples à palavra de Deus, mesmo que pensemos já ter adquirido muito conhecimento e discernimento; antes, permaneçamos humildes, ensináveis – e nobres.
Vincent Cheung

Notas:
1 - Para uma exposição detalhada sobre a segunda metade de Atos 17, na qual Paulo trata com uma audiência não-judaica, incluindo alguns filósofos gregos, por favor, veja meu Confrontações Pressuposicionalistas, capítulo 2.
2 - A Escritura é a revelação de Cristo a Razão, ou Logos, e somente o que é escriturístico é racional. Nesse sentido, eu equaciono os dois.
3 - Matthew Henry's Commentary, Vol. 6: Acts to Revelation (Hendrickson Publishers), p. 179.
4 - Embora essas traduções sejam consistentes com o significado intencionado do versículo, é melhor reter “nobres”, visto que a palavra original se refere a algo de alta qualidade, seja em termos de nascimento como de caráter. O contexto basta para nos dizer em que sentido e de que forma os bereanos eram nobres, e algo como “mente-aberta” parece muito interpretativo, perdendo algo do significado original do versículo.
5 - I. Howard Marshall, Acts (Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1980), p. 280.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A RAPOSA E OS BURROS


Unidos pelo interesse, muitos burros reuniam-se freqüentemente para discutir sobre
como dominar a floresta. Tentavam encontrar alguma resposta a esse anseio, mas a
dificuldade era ainda maior porque pensar não conseguiam. Estavam todos azurrando ao
mesmo tempo e apenas as vozes dos mais espertos se distinguiam:
- Vamos nos unir e determinar que a água da floresta seja somente nossa!
- Não, não... Vamos lutar contra todos os animais e vencê-los!
- Ouçam: Sejam mais corajosos! - disse um de grandes orelhas - Vamos fazer uma
grande marcha e declarar que a floresta é nossa!
Nessa disputa de idéias asinais, surge a raposa e em tom impressionante fixa:
- Construamos uma torre bem alta no centro da floresta e de lá a comandemos!
Tenhamos fé!
Os burros, ouvindo-a, mas não percebendo a sua intenção, aceitaram a sugestão.
Começaram a trabalhar, dedicando o melhor de suas forças. Carregavam madeira durante a
semana e, nos finais de semana, se consagravam ainda mais ao esforço. Com o firme
propósito de conquistar mais rápido, envolviam os filhotes e as fêmeas no serviço.
A raposa, a quem levavam parte de seus alimentos como gratidão, passou a ser o
líder do movimento de triunfo. As suas palavras eram animadoras e estimulavam o desejo
de trabalhar:
- Não desanimem. Não haverá lugar para os covardes. As dificuldades de hoje
servem para nos tornar melhores amanhã. Nada poderá nos deter. Fiquem firmes em suas
posições. Avante!
Terminada a torre, fizeram a inauguração. Os orneios eram ouvidos de longe.
A raposa lá de cima, ao lado de sua família, fez seu discurso emocionada. Os burros,
lá em baixo, choravam de alegria e de engano:
- A partir de hoje o reino dos burros começou. Eu sou uma simples raposa que sirvo
a todos vocês com alegria e humildade. Esta torre é apenas a primeira entre as milhares que
construiremos juntos. Em breve, com o esforço de todos, conquistaremos a floresta e
teremos o melhor desta terra!
A partir de então, olhando sempre para o futuro, todos voltaram ao trabalho porque
muito ainda havia para ser feito...

M.O.Ferreira . 20.11.2007

domingo, 3 de agosto de 2008

AS RAPOSAS, OS BURROS E A ESCADA


Moisés Olímpio Ferreira

Já no alto da torre, as gordas raposas, sempre imaginando como manter sua posição privilegiada,
criavam e recriavam estratégias das mais esdrúxulas para manter o seu domínio que fora
estabelecido pela violência, pela injustiça, pelo roubo e, sobretudo, pela mentira. Acostumadas a
constituir riqueza transformando o trabalho dos burros em ouro para si, fortificaram-se ainda mais:
fizeram alianças com serpentes, escorpiões, aranhas peçonhentas, sapos, ratos, bodes e com
outros animais com os quais há muito se alinhavam pelos traços comuns da ambição e dos
procedimentos.
Ultimamente, cheios de sadismo, provocaram alucinações com a escada:
- Vocês a vêem? Ela está aí, posta, esticada, perto de vocês. Não estão vendo? Vocês podem
subir por ela! Não tenham medo, subam até aqui! Experimentem a conquista, o poder, a
multiplicação, a honra de suas cabeças de burro!.
Já privados de razão e de liberdade (uns pelo prazer mórbido, outros porque tinham natureza
servil, outros pela reinação dos encontros, outros pelo sonho de uma cabana, outros por estarem
persuadidos de que um dia seriam raposas, outros porque não sabiam que eram escravos),
ouviam aquele discurso com lágrimas nos olhos. Levantavam e abaixavam as patas em sinal de
veneração.
- Temos muito para vos dar. Tenham coragem! Vocês serão transformados a partir de hoje, se
subirem aqui! Permitam que o poder invada seus corações asinais, para que vocês possam viver
tudo o que já temos vivido!.
O alvoroço não foi de pequena monta. O momento do estabelecimento do reino tão aguardado e
pelo qual tanto trabalhavam teria chegado? Sim, certamente, pensavam.
- Seremos reis! Seremos reis! Seremos reis! Seremos reis! Neste ano nos apossaremos da
floresta! Uníssonos, bradavam.
Certos de que lhes bastavam apenas subir a escada, não se agüentavam em seus lugares. Os
espíritos estavam aguçados; os nervos, à flor da pele; os pêlos, ouriçados; as pupilas,
esbugalhadas...
-Lembram-se de que o leão se tornou rei? Todos poderão ser como ele!.
Não havia mais espaço para tanta emoção. Beijavam-se, agarravam suas crias, machos e
fêmeas apertavam-se sonhosos. Com os olhos molhados, encostavam as cabeças uns nos
outros em sinal de êxtase.
- Lembram-se de que nós estávamos aí e de que conseguimos subir? A partir de hoje todos
serão como nós! Vocês verão o mundo de cabeça para baixo!
Como se mexiam desesperadamente para subir os degraus, de muito longe, o tilintar das patas
podia ser ouvido com sonoridade definida.
- Isso mesmo, continuem... Venham... Sejam audaciosos... Aqui em cima sobejará provisão para
vocês e para as suas famílias. Venham viver em lugares altos!
Com os olhos fechados e com o corpo em transe, subiam a escada de ouro imaginária. Nesse
entusiasmo, agora irreprimível e insano, saltavam degraus para chegar mais rápido, puxavam
alguns para passar à frente, patejavam a cabeça de outros, rasteiravam o próprio amigo,
pescoceavam veementemente... Instalou-se o gosto desmedido pela fantasia.
No alto, as raposas gargalhavam, porque os burros, em extrema agitação, despercebidamente se
sujavam em seus excrementos ... Sarcasticamente, deram um nome ao evento: Ano do Esterco!

Fonte : www.moisesolim.blogspot.com

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