quinta-feira, 11 de março de 2010

Publicanos e fariseus: filhos da mesma mãe e do mesmo pai

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Por Caio Fábio

A culpa tende a gerar duas tendências na alma. Ou ela vai para o pólo “coerente” com o estado de transgressão pelo qual a pessoa se sente culpada, mergulhando e ensopando a alma nos banhos da entrega ao objeto da transgressão, ou ao seu desejo, ou mesmo à multiplicação indiscriminada e repetitiva do mesmo comportamento ou sentimento pelo qual a pessoa se sente culpada; ou, então, ela, a culpa, leva a alma para o pólo oposto, fazendo da própria transgressão e da culpa um dado moral para os outros, posto que em tal “lógica” existe o seguinte argumento: “Já que eu sei que é mal para mim, e como não consigo deixar, lutarei contra a possibilidade de que outras pessoas sejam atingidas pelo mesmo mal”. Ora, é por esse piedoso argumento que todos os fariseus da história mataram e matam os "coerentes" com eles próprios, ainda que aos olhos do mundo fossem "diferentes".

Ora, isto é assim porque no primeiro pólo estão os publicanos, e no segundo estão aos fariseus.

Assim nascem os dois pólos que são fruto exatamente da mesma coisa: culpa.

Tanto o frouxo e libertino quanto os legalistas e farisaicos, são afligidos pelo mesmo mal: culpa.

O culpado que tende para a primeira categoria é aquele que se enxerga minimamente, e como não consegue vencer em si mesmo aquilo que acha ruim, decide não se meter na vida de ninguém, posto que ele mesmo sabe como é a sua própria natureza. Daí esse ir ao templo e dizer: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”

Já o culpado que tende para a segunda categoria, é aquele que se enxerga, mas não quer que ninguém mais o perceba, daí ele se esconder atrás das proibições das coisas que mais o seduzem. E como esse estado gera muita angustia, a pessoa acaba por se endurecer para não ter que sofrer a si própria como incoerência crônica, e, assim, torna-se um legalista para os outros, como se em assim procedendo, ele diminuísse a sua própria culpa. Daí esse ir ao templo se jactar em oração de não ser como os demais homens da terra: pecadores.

Para Jesus as duas coisas eram ruins, mas Ele preferia o pessoal do primeiro grupo, e apenas por uma razão: tais pessoas raramente deixam de ser vulneráveis à verdade, e tornam-se profundamente mais convertíveis que as outras, posto que confessam quem são, enquanto os do segundo grupo julgam os outros, enquanto eles mesmos estão em pior situação, posto que lutam contra quem são acusando os outros de serem exatamente como eles são, só que ninguém sabe. Desse modo, seu estado caminha para a petrificação.
Ora, é por tudo isto que eu afirmo outra vez: somente na Graça a alma pode parar de ser vitimada por esses dois pólos, pois é somente sob a Graça que o coração pode parar a tendência natural da culpa de posicionar a alma num desses dois pólos do coração.

Pois é somente na justiça que vem da fé no que Jesus já fez por nós, que o coração pode se assentar perdoado a fim de poder ser transformado.

Longe da Graça os ambientes que prevalecem são os desses dois pólos: o da frouxidão e ou o da petrificação. Um é pasta. O outro é pedra. O coração, todavia, quer ser apenas de carne.

Fonte: Caminho da Graça Via: Reflexões

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